segunda-feira, 25 de maio de 2009

Entrevista para revista portuguesa, quando foi morar em Portugal

“Não gosto de rimas fáceis”

Foi na belíssima Casa da Guia, em Cascais, perto do local que escolheu para morar em Portugal, que Maurício Mattar recebeu a nossa equipa, para conversar sobre a sua carreira e objectivos. De palavra fácil e discurso articulado, o famoso actor e cantor explicou-nos o prazer que sente em compor e o que pretende para a sua carreira.

Revista Festa - O Maurício mudou-se em Janeiro para Portugal. Como está a correr a adaptação ao nosso País e a Cascais?

Maurício Mattar – Sempre gostei de Portugal. Fui bem recebido aqui e, em Cascais, tenho aquilo a que estou acostumado no Brasil. Sou nascido e criado no Rio de Janeiro, onde tem uma prática esporte em abundância e uma paisagem que vai desde a montanha à praia. Esta zona remete-me a tudo isso.

RF – Veio para Portugal como cantor. Está a ser difícil que o deixem de olhar como actor, mas sim como cantor de Música Popular Brasileira (MPB)?

MM – Eu sabia que era um processo que começava do zero e não posso criar expectativas. O actor é conhecido, tem nome, tem imagem, afinal, participei em mais de vinte novelas. O cantor e o compositor são algo novo e, por isso, tenho que formar público, fazer “shows” e comprovar o meu talento. Quando fiz a ponte, já sabia que esse é um processo que não acontece do dia para a noite, mas estou semear os frutos que vou colher daqui a dois ou três anos.

RF – Lançou recentemente um CD chamado “Meu Segundo Disco”, que, curiosamente, acaba por ser o seu sétimo. Porquê a decisão de, agora, entrar no mercado português?

MM – Porque só no CD anterior é que eu tive a oportunidade de fazer um trabalho com as minhas próprias composições. Este novo trabalho segue essa linha também, daí o nome. Então, são os dois últimos da minha carreira que têm essa característica de só terem composições minhas, que é o que eu quero mostrar. É um trabalho exclusivamente de compositor. Os outros eram trabalho de uma multinacional, a Sony Music, que tinha como objectivo fazer um trabalho comercial mais popular, que se distanciava daquilo que sou na verdade.

RF – Falou da sua ligação à filosofia. O que se pode encontrar nos poemas escritos por si?

MM – Sempre letras reflexivas, que façam pensar. Que falem do existencialismo e do que habita no ser humano, o amor, não apenas o amor entre homem e mulher, mas também para com a natureza, pelo planeta, pelos seres vivos. Acho que tudo o que engloba o sentimento pelo seu sentido maior é muito mais plausível do que a rima fácil do “eu te amo”. Eu busco sempre as entrelinhas.


actor até morrer

RF – Desistiu definitivamente de ser actor?

MM-Jamais vou cuspir num prato onde comi a vida inteira e que me forneceu tudo o que eu sou como artista, a minha imagem, o meu nome. Apenas tenho paralelamente um trabalho de compositor forte, que começou aos onze anos, altura em que me comecei a envolver com música. E é na carreira musical que me quero concentrar agora.


Cumplicidade entre músicos brasileiros

RF – A recepção no Brasil às suas composições foi muito boa, com alguns cantores consagrados, como Caetano Veloso e Djavan, a tecerem os comentários mais elogiosos. Estava à espera de tantas palavras boas?

MM – Olha, essa recepção positiva acaba por ser natural por eu ter nascido no meio da MPB. Todas as pessoas que participaram no meu disco anterior, como Milton Nascimento, Jorge Vercilio, Toquinho, Marcos Viana, Geraldo Azevedo, tantos, até Caetano Veloso que assinou o release, fazem parte do meu aquário de vida. Então não tem surpresa. Eles conhecem o meus trabalho como músico, compositor e cantor. Então são pessoas que são até suspeitas para falar porque me conhecem. Pode ser surpresa para as pessoas, mas para mim é natural, porque estamos habituado a fazer parcerias, tanto eu, como Toquinho, Geraldo Azevedo, Djavan, cada um vive na casa do outro, cantando e fazendo novas músicas. É um processo de amizade, mesmo.
 
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